sábado, 18 de julho de 2015

Vida Vs Morte

Tema extenso! Nasci e cresci com a única certeza, um dia morro. Eu, e todos aqueles que me rodeiam, todos e tudo aquilo que me rodeia. Desde muito cedo que existe uma procura profunda por parte do ser humano em evitar o assunto morte, em encontrar respostas para a nossa tão única certeza mas tão profundamente misteriosa. Pelo seu mistério, pelo facto de star intimamente ligada ao sentimento de sofrimento, é imposto práticamente que seja tabu, e, que só se fale em viver. È certo que não devemos ser mórbidos ao ponto de estar todos os dias a falar na morte, mas, enfrentar esta certeza com o peito aberto, ajuda, sem dúvida a ter uma vida mais preenchida. Sabemos que aquilo que deixamos por cá é o nosso legado. O que marcamos naqueles que amamos vai perdurar além da nossa existência, por isso se dermos as mãos aos que amamos, junto com as nossas acções, e aquilo que gostariamos de lembrar de alguém, ou, que queiramos que lembrem de nós é semear a vida, para que além da morte, continuemos por aqui! Mas como lidar? "Ai nem quero pensar se X morre".... "opá o Y está muito mal, temos que estar preparados".... "olha o A morreu, não é verdade, ainda ontém estava tão bem, o melhor é estarmos bem porque de um momento para o outro já não estamos cá" Frases tão banais, mas com apenas 5 segundos de duração/de prazo de validade. Eu costumo dizer, que tenho compaixão pelos que ficam, os vivos, porque esses sofrem, muito! Quem morre, morreu, acabou. E nem assim tenho bem a certeza porque ainda não morri para dizer, mas sei que o amor á vida é muito forte, ou não teriamos casos de sucesso oncológicos, ou batalhas perdidas mas que a luta foi inspiradora. Depende muito da pessoa que enfrenta o que tem que enfrentar. Uma morte é sempre uma amputação! Com fenómenos psicológicos interessantes, diria mesmo intrigantes! Que no fundo resumem a beleza da vida! Naquele instante tudo o que lembramos é do BOM, do MARAVILHOSO. Verdade? E o que fazemos? Choramos em bica. De sofrimento. Peço desculpa falar de mim, mas, só tenho o direito de falar é de mim mesma, apesar de ter estado ao lado de muita gente, incluindo de quem já perdeu filhos, que considero ser a maior perda, e onde assisti ás mais diversas e estranhas reacções. De mim, posso dizer que tive variadas reacções. Quando conheci a morte, tinha 7 anos, faleceu uma bisavó, e, não liguei a minima importância. Simultâneamente a minha mãe foi internada a primeira de 9 vezes, e eu sabia, que podia, nunca mais a poder ver. Um meningioma cerebral fez com que ela tivesse comportamentos idênticos ao de um doente de Alzheimer. E, eu senti que aquela não era a minha mãe. Era o corpo. Aqui deparamo-nos com a morte em vida! Felizmente, ela havia de durar e durar e vencer o meningioma em 2009; depois de 9 vezes ao longo dos anos que teve que ser operada aquando este crescia. O meu avô João, homem forte e saudável, entra no Hospital em Abril de 2010 com uma hérnia no estômago, volta para casa em Junho, e volta a sair com uma sepsis, para não mais voltar em Setembro de 2010. Não vou contar com as perdas de tios, amigos, entes mais próximos, primeiro porque não me compete expôr aqui, segundo porque vivi um luto pessoal mais tranquilo, e fiz o que todo o ser humano deveria fazer, amparei os vivos. Quando soube da morte do meu Avô, chorei e agradeci a uma fé estranha que me moveu naquele momento. O sofrimento durante aqueles meses que pareciam não ter fim, não só já tinham acabado de esgotar o meu avô, como estavam a esgotar todos nós, como se estivessemos cheios de sede a correr numa passadeira com o copo á frente mas não nos mexemos do mesmo sitio. Na véspera de morrer o meu avô pediu-me uma vianeta, banqueteou-se com a mesma, e depois mandou-me embora sob o aviso de ser feliz, e com o prémio de mérito e excelência da boca do mesmo como a melhor amiga que ele teve, a neta, eu! Chorei, sofri, e no fim, restou uma pedra no cemitério com o nome dele! Não!...Quando vou a casa dele, sinto-o mais, e sei que ali só estão os espaços que ele um dia privou comigo. Só vence na vida quem se vence a si próprio. Foi o legado que me deixou. A minha mãe, estava ao meu lado a 3 de Janeiro de 2013 a beber o café eram 12h50. Levantou-se, disse-me até já, (pois fiquei mais um pouco no café), e pelas 13h15 o meu telefone toca com a noticia que ela teve um acidente de viação do qual provavelmente não sobreviveu. Corri até desfalecer nos braços de um vizinho que me ajudou a encontrar o local do acidente. Quando cheguei mandei as minhas mãos ao céu e depois á cabeça e fiquei gelada e a olhar á roda. Avistei uma amiga e gritei "o que é que eu faço?" Não me lembro de mais nada, lembro-me de ser um zombie nas mãos dos policias ou porque estava pálida, ou porque alguém me chamou....mas eu não ouvia nada. Só vozes de fundo. Até uma médica dizer "È a unica filha?"..chamei o meu irmão e.... "A vossa mãe faleceu de imediato. Lamento". Sentei-me no chão e não esboçei uma unica expressão. Recordo-me de um cunhado do meu irmão dizer "Estou preocupado contigo. Estás apática". O meu cérebro gamhou um mecanismo de defesa tão grande, que eu nem do velório ou funeral me recordo. Ao fim de seis meses, eu entendi, e agora em espécie de metáfora, que não tinha sido como quando eu tinha sete anos, ela não ia voltar sã e salva, eu não precisava estar a ser forte por ela. A minha mãe. tinha morrido, para mal dos meus medos, ela tinha morrido. A mesma pessoa, eu, dois pilares emocionais. e tão deferente reacção. Porquê? Um eu esperava, a outra não! E ambos para mim, ainda eram imortais. Uma dor que nunca acaba, um sufoco que nunca deixa de hiperventilar; e eu pergunto-me se não tivessem vivido comigo as belezas da vida eu conseguiria estar agora, sentada no sofá, a fumar um pensativo cigarro e a sorrir enquanto escrevo sobre eles? Não! A beleza da vida está em tudo o que vivemos até á finitude da mesma, a nossa certeza universal. E para quem tem medo da palavra fim, então que não seja o fim, que sejam lembrados e registados nas atitudes do nosso dia a dia. "A morte não é a maior perda da vida, mas sim o que morre dentro de nós enquanto vivemos". Pablo Picasso. Até breve C.Baleia

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